sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Nestes dias chuvosos, quando a tua
lembrança vem bater-me na vidraça,
recuso-me de todo a ver quem passa
e procuro nem sequer olhar a rua.

E pela noite dentro, quando a lua
é um pássaro triste que esvoaça
sobre a última árvore da praça,
onde um fantasma sempre se insinua,
reinvento-te e, à luz da madrugada,
concluo que, além de ti, não há mais nada.

terça-feira, 11 de agosto de 2009


A alma é uma coleção de belos quadros adormecidos,
os seus rostos envolvidos pela sombra.
Sua beleza é triste e nostálgica porque,
sendo moradores da alma, sonhos,
eles não existem do lado de fora.
Vez por outra, entretanto,
defrontamo-nos com um rosto (ou será apenas uma voz,
uma maneira de olhar, ou um jeito da mão...)
sem razões, faz a bela cena acordar.
E somos possuídos pela certeza de que este rosto
que os olhos contemplam é o mesmo que,
no quadro, está escondido pela sombra.
O corpo estremece. Está apaixonado.
Acontece, entretanto, que não existe coisa alguma
que seja do tamanho do nosso amor.
A nossa fome de beleza é grande demais.
Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele.
E a bela cena retornará à sua condição de sonho
impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se
da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer...

Quando quiseres me amar
não escolhas tempo nem lugar.
Quando chegares, diremos baixinho
o soneto de todos os amantes.
Faremos de nossos dedos
demiurgos recriando a noite,
em régua e compasso transformaremos nossas mãos.
Inventaremos uma geometria do amor:
procuraremos a linha reta de nossos olhares,
apararemos as arestas de nossos corpos,
em quinas e ângulos uniremos nossas bocas,
e num ponto qualquer fixaremos o azulado
das manhãs.
Quando quiseres me amar,
não escolhas tempo nem lugar.
Deixarei a porta aberta, a casa limpa,
uma saudade te esperando em cada canto.
Quem inventou a partida?
De um filho, de um amigo,
de um parente, da vida ...
Que oca figura é esta
que nada lhe toca e lhe resta,
para inventá-la tão triste?
E tudo nela é sofrido:
o abraço, o olhar,
o beijo dividido...
Tudo nela tem uma ponta de dor:
As palavras, um afago ,
uma lágrima!
E ainda nos deixa
uma saudade tamanha,
Pesada de carregar!
Quem inventou a partida
Não sabia amar!
Não teve infância,
nem se apaixonou!
Não teve amigos,
nunca chorou ...
Não viu a primavera,
a neve das chaminés!
A chuva da janela,
os rios e igarapés.
Quem inventou a partida
Deveria estar de mal com a vida!
Não conseguiu compreendê-la.
Não viu o neto,
a noite e seu teto,
os quinze anos de um filho ...
Quem inventou a partida?
Seria a propria dor nascida?
Perdeu os natais,
crepúsculos e madrigais ...
Perdeu o pulsar da vida!
Quem inventou a partida
a fez sem autorização,
do amor guardado em nós!
Sem data marcada, sem dia certo...
fez a sós!
Sem trato, ou distrato,
sem contrato de gaveta.
Mas a fez, metido a besta!
E a nós, o que resta?
Dos dias, espreitar à fresta
esperando o momento que
chegará em nossa vida,
no mais completo silêncio.
 
Algumas pessoas se tornam inesquecíveis
ao mesmo tempo em que se tornam invisíveis...
Existem amores duradouros que se mantêm
graças a outras “concretudes”.
companheirismo...afinidade...fidelidade...
E existem amores que existem na
sua condição de impermanência...
Como as estações que aparecem e se desmancham,
a cada ano...deixando a imagem de um pôr-do-sol,
folhas que caem em verso ou reverso,
a chuva estupenda que lava uma tarde única.
Ficar com estes amores é
como tentar pegar as nuvens...
Certos desejos só cabem na memória,
uma instância que até parece a realidade,
mas não é a realidade...
Nela não há mais tempo nem espaço...
apenas a beleza imaterial.
A beleza sem "corpo".
De quantas desistências é feito o sonho?

Célia Musilli
 

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Toda mulher sabe amar
E sabe demonstrar.
Não se contenta com pequenos sinais
Quer sempre mais
Não aceita limites
Quer tudo
Não agüenta a espera interminável
Quer agora, que urgente
Ela quando quer nada teme,
Não vê a impossibilidade,
a impotência do outro
Não é inerente a mulher
À covardia no amor
Quando ama uma mulher
ama com coragem,
Ama desvairadamente
Ama amar
Olho o mundo...
e não compreendo
Como pode ser
tão má a humanidade
Humanidade,
aquela que tem seres humanos.
Mas humanos não seria
os seres racionais?
Seres racionais
não deveriam ser o
“ser” inteligente,
aquele que compreende,
que entende,
que pensa?
Irracional não é o mundo animal?
Mas o animal
não é aquele que vive em paz?
Que só mata por fome?
Não é aquele que tem
sua espécie extinta
pelo ser racional?
É não entendo mesmo!
Acho que não sei o que quer dizer
“Racional e Irracional”
És meu limite
és minha censura
Tentas prender minha mente
tentas me deter
Sei que me quer sua
sei que me quer toda
És meu carrasco
és meu juiz
minha vida te incomoda
minha alegria te é estranha
meu sorriso para ti é profano
não me conheces nada
não sabes nem ao menos que
dentro do peito tenho um
coração que quer viver feliz
e que tenho uma alma
que quer voar
para o além
Mente Humana
vastidão...
somente comparada ao universo
Tantos são seus caminhos que
jamais uma outra mente conseguirá
decifrar um milionésimo
dos seus segredos.
Imaginar...
Tirar por si mesmo ações alheias...
é puramente ilusório
Mentes...jamais seguem pelo mesmo caminho
Mentes...jamais seguem o mesmo destino

quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Caminho por uma estrada

estreita, escura, difícil.

Ou será que é minha mente

que é tão estreita.

Que em tudo vê dificuldades

Meu coração é apertado

não dá abertura para o amor

Amar dá muito trabalho,

requer muita paciência

muita entrega,

muitos sacrifícios

resignação, desistências

Não sei se quero tudo isto

de novo, se quero partilhar

tanto trabalho, tanta entrega.

Acho que não mais,

estou muito cansada.

.
Palavras podem ser ousadas,
malcriadas, ofensivas
Ando a procura de uma
para te qualificar
Mas ai então não
poderei publicar
Porque algumas palavras
não ficam bem em poemas
Então o que farei é te ignorar
Penso que pode ser bem ofensivo,
fingir que nuncas existiu
Ou se existiu já morreu
Talvez tenha morrido mesmo
de rir da minha cara,
Só porque um dia te amei,
pensando que eras único,
que eras verdadeiro

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Não existe mais o “nós”
não fazemos mais um par
fomos divididos
Você ficou com o lado
que escolheu
escondido,
encolhido
Eu fiquei no outro lado
que não havia escolhido
desocupada,
desiludida
na espera do nada
Nunca fomos mesmo um par
éramos somente dois sonhadores
tentando encontrar-nos
Mas não foi possível
você não quis
sua covardia foi maior
que nossos sonhos,
então acordamos
e os nossos sonhos
dissiparam-se
desfizeram
Por favor responda-me
mande-me qualquer sinal
não acredito que teu amor
desfez-se como fumaça

Por favor, me informe
como vais? como estás?
não é possível que possas
Sumir sem olhar para trás

Se algum dia me amou
se algo era real
responde-me, avise-me
com qualquer sinal

Serve cartas, telegramas
mails, bilhetes
até mesmo se puder
que sejam sinais de fumaça

Gostaria de ter a
calma de um monge
mas não tenho
não sei esperar
quando quero,
tem que ser urgente,
senão perde a validade,
a importância
Não consigo ficar no
banco de reserva
esperando a minha vez
quero logo ser convocada,
senão perco o interesse
Não tenho mais tempo
para esperas
Minha vontade é intensa,
mas breve
Se não for alimentada
morre como uma flor,
seca sem água
Mas renasce novamente
para outra novidade,
outro interesse
outro amor
 
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